Por Luiz Domingues
Durante décadas, o imaginário do povo norte-americano foi atormentado pelo pesadelo nuclear iminente, como clímax possível ante o desfecho da guerra fria. A ideia de um ataque massivo do inimigo vermelho, a aniquilar o american-way-of-life tornou-se um manancial importante para os produtores de cinema, que se valeu dessa paranoia para lançar inúmeros filmes com esse mote.
E foi a pensar nisso que o produtor, Walter Seltzer, propôs modificações no roteiro que adaptava, baseado no livro: “I Am Legend”, lançado em 1954, cujo autor foi um escritor chamado: Richard Matheson. Sendo assim, Seltzer pediu ao casal de roteiristas, William e Joyce Corrington, que se mudasse a ideia original do livro, onde a humanidade é dizimada devido a um vírus misterioso, para uma contaminação bacteriológica gerada por uma eventual Terceira Guerra Mundial.
O livro já inspirara uma versão cinematográfica produzida em 1964, estrelada por Vincent Price, mas com outro título (“The Last Man on Earth”), mas, tempos depois, gerou uma nova versão em 1971, que se chamou: “The Omega Man” (“A Última Esperança da Terra”, em português) e mais ainda, no futuro, 2007, uma nova versão surgiria (“I Am Legend”), com Will Smith, e a atriz brasileira, Alice Braga, como protagonistas. No filme de 1971, Charlton Heston interpreta o cientista / médico e coronel do exército, Robert Neville.
A ação dessa segunda versão que eu comento, passa-se em 1977, sob um futurismo breve (visto que foi lançado em 1971), onde o cenário é o de um mundo devastado pela guerra nuclear que teria sido deflagrada em 1975. Neville pesquisava uma vacina para coibir os efeitos devastadores da radiação, quando sob uma emergência, injeta em si próprio o experimento, por meio de uma atitude desesperada.
Formam uma seita fundamentalista, autodenominada: “A Família”, e o seu principal objetivo passa a ser perseguir o coronel Neville, ao responsabilizá-lo por ser o último baluarte de uma cultura decadente que destruiu o mundo graças ao seu egoísmo e mediante a sua tecnologia, principalmente em favor da beligerância (bem, o que não deixa de ter um fundo de verdade…). Neville transforma o seu apartamento em um autêntico “bunker”, super equipado e no período noturno, protege-se dos ataques dos membros da “família”, sem nenhum pudor, ao metralhá-los à queima roupa, tranquilamente de sua sacada.
Formam uma seita fundamentalista, autodenominada : “A Família”, e o seu principal objetivo passa a ser perseguir o coronel Neville, ao responsabilizá-lo por ser o último baluarte de uma cultura decadente que destruiu o mundo graças ao seu egoísmo e mediante a sua tecnologia, principalmente em favor da beligerância (bem, o que não deixa de ter um fundo de verdade…). Neville transforma o seu apartamento em um autêntico “bunker”, super equipado e no período noturno, protege-se dos ataques dos membros da “família”, sem nenhum pudor, ao metralhá-los à queima roupa, tranquilamente de sua sacada.
Durante o dia, Neville anda pelas ruas de Los Angeles, completamente vazia e entrega-se ao consumo, de uma forma bizarra. Entra e sai de lojas a pegar o que deseja, inclusive produtos fúteis, em uma clara crítica subliminar ao consumismo desenfreado (é para isso que criamos uma “civilização ” ?). É muito interessante o grau de sarcasmo de suas falas, nitidamente inspiradas nas histórias em quadrinhos de certos de super-heróis da Marvel e DC Comics (Spider Man; Deadpool etc). Quando entra em uma concessionária de automóveis, por exemplo, dialoga com o cadáver do vendedor, como se ele estivesse vivo e ironiza o suposto preço do automóvel caro que toma posse, sem cerimônia.
Somente Lisa e um rapaz estão entre eles, e curiosamente esse adulto é um hippie, que fora aluno de Neville na Universidade e possuía conhecimentos sobre vacinas (no filme, ele é identificado apenas como “dutch”/ holandês, e foi interpretado por Paul Koslo). Mas o irmão adolescente de Lisa (Ritchie, interpretado por Eric Laneuville), está infectado e ela teme que ele se torne um mutante igual aos membros da “Família” e, sendo assim, Neville propõe-se a aplicar a vacina experimental nesse rapaz.
Dessa forma, através dela, que está fora de si, arma-se uma emboscada dentro do apartamento / bunker de Neville. As cenas finais são bastante angustiantes e cheias de simbolismo, pois evocam o martírio de Neville quase como o de um Messias moderno, arauto do bem contra o mal.
Em meio a lutas, Neville consegue salvar a vacina que seu pupilo, “Dutch”, aplicará às crianças e também reverterá o processo de Lisa. Neville está morto, em uma fonte em frente ao seu apartamento e com os braços abertos, ao parecer crucificado. O seu sangue derramado tornou a água turva e rubra. E o golpe de misericórdia fora uma lança arremessada por um dos membros da “Família” (qualquer semelhança com uma história que você já ouviu por aí, não é mera coincidência…).
O grau de sarcasmo com o qual o personagem Neville lida com isso, faz-me lembrar dos diálogos do Homem-Aranha nas revistas em quadrinhos, onde ele não se limita a enfrentar os seus inimigos na base da truculência, mas principalmente através da verborragia plena em ironia fina e deboche. E gosto, sim, do conceito da esperança, pois a minha estética é a da beleza e não da feiura, por isso sou assumidamente um entusiasta do Flower Power sessentista.
“The Omega Man” foi dirigido por Boris Sagal, e possui todos esses elementos, ao mostrar-se um filme que prende a atenção do espectador, até o final.