Por Luiz Domingues
Martin Scorsese dispensa maiores apresentações como diretor de cinema consagrado que é. Influência óbvia para qualquer cinéfilo, ele possui uma carreira prolífica a arregimentar diversos filmes no panteão dos clássicos, além de uma série de documentários e trabalhos dirigidos para a TV, paralelamente. Contudo, gostaria de enfocar mais especificamente os trabalhos dele relacionados à música e ao Rock em específico.
Ao cobrir o show de despedida dessa histórica banda, no mítico teatro Winterland Balroom, em San Francisco, Califórnia, realizado no ano de 1976, Scorsese imprimiu um roteiro sob pura emoção, ao ir além da energia e comoção geradas no palco pela banda e por seus convidados super especiais.
O cineasta intercalou, portanto, diversos depoimentos informais proferidos pelos membros da The Band, a narrarem casos pitorescos da sua carreira e ainda acrescentou duas cenas gravadas à parte, na qual The Band toca o seu hit, “The Weight”, acompanhado da musa folk, Emmylou Harris, e com o reforço de um coral de backing vocals, sensacional. Além de uma valsa (“The Last Waltz” ao fazer jus ao título do documentário), sob uma atmosfera idílica, lindíssima.
No show, além dos clássicos do repertório da banda, vislumbra-se uma plêiade formada por artistas convidados, tais como: Bob Dylan, Muddy Waters, Eric Clapton, Ringo Starr, Van Morrison, Dr. John, Ronnie Hawkins, Emmylou Harris, Joni Mitchell, Neil Young, Neil Diamond, Paul Butterfield e o então recém “novo guitarrista dos Rolling Stones”, o ex-The Faces, Ronnie Wood.
Eu assisti a tal documentário pela primeira vez no extinto cine Bijou, na Praça Roosevelt, centro de São Paulo, logo que entrou em exibição no ano de 1978. Saudade daquele cinema, que se revelara como um fortíssimo reduto frequentado por Hippies, Freaks, Rockers e cinéfilos em geral, onde a programação de filmes e documentários sob cunho contracultural foi marcante.
Nesse episódio, Scorsese percorre um longo caminho ao lado do músico, Corey Harris, ao irem do Delta do Mississippi até o rio Niger, em Mali, África, para tentar entender de onde viera a mais remota raiz do Blues. Simplesmente espetacular.
Nos outros episódios, Scorsese ficou a cargo da produção geral e designou grandes diretores do calibre de: Win Wenders, Richard Pearce, Charles Burnett, Mark Levin, Mike Figgis e Clint Eastwood. No episódio dirigido por Clint Eastwood, as cenas com Ray Charles, um pouco antes desse genial músico falecer, emocionam.
Diferente de “Don’t Look Back” (documentário de 1967, realizado pelo diretor D. A. Pennebaker, que enfocou bastidores de um show de Dylan em Londres, no ano de 1965), “No Direction Home” é um adendo à obra de Pennebaker, super cultuada pelos fãs de Bob Dylan e Rockers em geral que admiram Pennebaker por seus documentários clássicos do Rock sessenta & setentista.
Com fotografia esplêndida, Scorsese caprichou nas tomadas da performance de “suas majestades satânicas” e não carregou em depoimentos, praxe do documentarismo musical, tradicional.
A sua avant-première foi no Festival de Berlim, em 2008.
Em 2011, Scorsese realizou o documentário “Living in the Material World: George Harrison”, que contou com a consultoria da viúva de Harrison, Olívia Harrison.
Como devem saber, “Living in the Material World” é nome de uma linda canção pertencente ao álbum homônimo de George Harrison, na sua carreira solo e lançado em 1973.