Paulo Sá

O filme ¨Meu pai¨ é sobre a empatia pelo envelhecimento

Por Patrícia Fawkes

Quando você sabe que alguém morreu, invariavelmente, pergunta: Quantos anos tinha? Como se a resposta for 70, 80 anos fosse natural e esperado. Bem, segundo o IBGE de 2019 (enquanto houver estatísticas), temos 28 milhões de idosos brasileiros. Totaliza 13% da população e este percentual tende a dobrar nas próximas décadas. Cada vez mais ouvimos falar de vovós e vovôs falecerem aos 90, 100 anos ou até mais.  Não quero aqui tratar das condições de vida do idoso brasileiro, muito menos comparar com as do engenheiro rico, personagem de Anthony Hopkins no filme “Meu Pai”, para mim, o melhor papel de sua carreira.

 

Foto: Weedlyr/Pexels

 

Certa vez, um geriatra numa palestra perguntou: “Quantos aqui querem morrer dormindo?”. Grande parte da plateia levantou a mão e ele, com certa ironia, respondeu: “Tenho uma péssima notícia pra vocês, a grande maioria aqui, muito provavelmente, vai morrer de doenças vasculares ou Alzheimer. A boa notícia é que, grande parte dessas doenças é evitável.”

E você, evita tais doenças? As doenças vasculares foram amplamente estudadas. Sabemos que não fumar, se alimentar bem, fazer exercícios e cultivar a vida social e a saúde mental são fundamentais para evitar tais enfermidades.

Já sobre o Alzheimer, sabemos muito pouco. Na década passada falou-se em manter as atividades intelectuais como principal ferramenta para evitar a doença, no entanto, hoje em dia vemos ex-estadistas, ex-intelectuais e ex-engenheiros, caso do personagem do filme, com a doença.

“Meu pai”, um filme especial

Brilhantemente dirigido pelo francês Florian Zeller, que também é escritor, isso explica o primor do roteiro; “Meu pai” é um filme, dos poucos que assisti, que você entra, literalmente, na mente do personagem. Daí o alto nível de empatia que sugeri no título deste texto.

Mudanças de cenários, cores (lindamente trabalhadas, tons outonais para combinar com o brain fog  do protagonista), mobílias, feições, diálogos, ordem dos acontecimentos, mudanças de humor, tudo se embaralha e uma hora você se pergunta: “Estou bem da cabeça?” Quem é quem? Quem está mentindo? Em quem confiar? Ele foi agredido? As verdades do inconsciente que tentamos a vida inteira esconder, impreterivelmente vêm à tona? Se eu continuar vou acabar dando spoiler .

A verdade é que a falta de consciência traz flashs de consciência e essa deve ser a parte mais dolorosa de lidar com a doença, a perda do controle, assumir que depende, os afetos, os anseios, o tempo que resta. Afinal, o que somos, além da nossa consciência?

Num seriado, uma personagem jovem com câncer terminal ouve uma senhora reclamar da velhice e diz: “ Não reclame, envelhecer é um privilégio.” Concordo, desde que seja com saúde.


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