Postada na fórmica espelhante, limpada a álcool
Sua pose resplandecia perante as bananas, caquis e quintos de mamão.
Sua forma espetacularmente circular se equilibrava
Na vastidão da cesta.
A casca… e a casca?
A casca enrugada e popuricada interpretava o suco.
Amarelo suco, sabor laranja; cítrico, sim, mas não limão!
Suco naturalmente natural colado ao copo.
Colado ao copo, sintético bolero, semáforo!
Atenção!
Sabor laranja, tal e qual pedaços
Gomos de sol vesperal, banhando a esmaltada cerâmica…
Cozinha esquecida!
Como esculpir a circular laranja?
Espátula em faca… Primeiro movimento: abrir as gavetas com precisão.
Segundo: escolher uma certa espátula certa, atenção!
Terceiro: namorá-la e aconchegá-la nas mãos. Aquecê-la.
Quarto: instruí-la do caminho a ser percorrido.
Quinto e último: pô-la em movimento
Amaciá-la com carinho numa mão, que nem…
Que nem coxa da amada sendo aquecida em tardes de frio;
Na outra, fira a espátula dando formas circulares.
Como espiral siga o caminho.
Segue o produto, a casca esculpida. Segue bem alto.
Um brinco! É espiral! Um brinco que regará a orelha,
Sua orelha, ainda divorciada de minha língua.
Minha língua injeterá liquor. É o suco!
Fixa mortalmente na laranja semântica amarela,
Sorriso pedra-sabão crua.
Escorre pela esquina dos lábios. Gotas de luzes amarelas.

O poema A laranja faz parte do livro Cordões de Celofane.