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Foto: Kumar Biswal/Pexels

A laranja

Postada na fórmica espelhante, limpada a álcool

Sua pose resplandecia perante as bananas, caquis e quintos de mamão.

Sua forma espetacularmente circular se equilibrava

Na vastidão da cesta.

 A casca… e a casca?

A casca enrugada e popuricada interpretava o suco.

Amarelo suco, sabor laranja; cítrico, sim, mas não limão!

Suco naturalmente natural colado ao copo.

Colado ao copo, sintético bolero, semáforo!

Atenção!

Sabor laranja, tal e qual pedaços

Gomos de sol vesperal, banhando a esmaltada cerâmica…

Cozinha esquecida!

Como esculpir a circular laranja?

Espátula em faca… Primeiro movimento: abrir as gavetas com precisão.

Segundo: escolher uma certa espátula certa, atenção!

Terceiro: namorá-la e aconchegá-la nas mãos. Aquecê-la.

Quarto: instruí-la do caminho a ser percorrido.

Quinto e último: pô-la em movimento

Amaciá-la com carinho numa mão, que nem…

Que nem coxa da amada sendo aquecida em tardes de frio;

Na outra, fira a espátula dando formas circulares.

Como espiral siga o caminho.

Segue o produto, a casca esculpida. Segue bem alto.

Um brinco! É espiral! Um brinco que regará a orelha,

Sua orelha, ainda divorciada de minha língua.

Minha língua injeterá liquor. É o suco!

Fixa mortalmente na laranja semântica amarela,

Sorriso pedra-sabão crua.

Escorre pela esquina dos lábios. Gotas de luzes amarelas.

É a minha língua. A língua.


Cordões de Celofane

O poema A laranja faz parte do livro Cordões de Celofane.

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