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Blues: um sentimento em estado bruto

CAPÍTULO 1. O negro e o processo de unificação dos Estados Unidos

Os Estados Unidos, na primeira metade do século XIX, viviam com sérias divergências internas, divergências essas que vinham desde os tempos da colonização. Tais conflitos geraram dois pólos distintos e que se opunham, apesar de caminharem lado a lado no desenvolvimento do capitalismo no país:

  • o Norte, constituído de uma sociedade industrializada e abolicionista, que vendia seus produtos manufaturados ao Sul;
  • e o Sul, agrícola e escravocrata, que se sustentava economicamente com o sistema de plantation, grandes fazendas monocultoras, produtoras principalmente de algodão, que era vendido para os Estados do Norte e para a Inglaterra.

Em 1822 estourou a primeira crise importante entre os dois lados. O território do Missouri onde existia a mão de obra escrava tornou-se Estado, aumentando, dessa forma, o poderio do Sul no Congresso. Em contrapartida, o Norte não aceitou tal fato, o que originou vários atritos. Para que fosse apaziguada a situação, foi criado o Compromisso do Missouri, um acordo que versava: “Era criado o Estado do Maine, sem escravidão; a partir de então, os Estados seriam formados aos pares, um escravista e outro livre. E, por último, com exceção do Missouri, a escravidão não seria permitida a partir do paralelo 36º 30′.

Mas, mesmo com a crise de 1822 resolvida, os problemas entre Norte e Sul cresciam dia a dia. No Norte, além do anseio por tarifas satisfatórias que amparassem a indústria, o abolicionismo ganhava posição de extrema importância. No Sul, a ideia de que a secessão era necessária obtinha mais e mais partidários, pois pensava-se que o Norte com suas posições arruinaria os Estados do Sul.

Declarada a guerra!

Com a situação interna insustentável e com a vitória de Abraham Lincoln para a Presidência, em dezembro de 1860, a Carolina do Sul declarou-se separada da União, proclamando o lema: “Resistir a Lincoln é obedecer a Deus”. No final do ano de l861, sete Estados sulistas se separariam da União e constituiriam a Confederação dos Estados do Sul formada, além da Carolina do Sul, pelos Estados do Alabama, Flórida, Geórgia, Texas, Carolina do Norte e Virgínia , iniciando-se, assim, a guerra civil americana.

Mapa Guerra Civil norte-americana
Os estados do Norte e do Sul, divididos na Guerra Civil norte-americana (1861-1865).

As opiniões a respeito das causas que levaram à guerra se concentram em três pontos: a) alguns historiadores acham que a razão principal foi a questão tarifária; b) outros afirmam que foi a questão da escravidão; c) e há ainda os que dizem que a guerra está ligada à preservação da hegemonia da União, ou seja, a supremacia dos Estados do Norte. O confronto Norte-Sul, no tocante à escravidão (aspecto que mais nos interessa), ocorreu devido ao problema dos novos Estados. A grande maioria da população do Norte não era totalmente contra a escravidão. Aceitavam-na no Sul, apenas não queriam que se expandisse para os Estados do Oeste. Em 1850, de acordo com o censo, dois milhões e meio de escravos se apresentavam na atividade agrícola, assim distribuídos: 1 815 000 na produção de algodão; 350 mil na de tabaco; 150 mil na de açúcar; 125 mil na de arroz; e 60 mil na produção de fibras.

Para o Sul era fundamental que a escravidão fosse permitida nos Estados do Oeste, pois assim se manteria alto o valor dos escravos, o que seria uma saída para a crise que se verificava na economia sulista decorrente da queda da produção do algodão. O Sul se tornaria, então, um “distribuidor de escravos para o Oeste”. E mais: existia o importante fator da representatividade no Congresso, especialmente no Senado, onde os sulistas ainda possuíam a maioria. Caso a escravidão fosse permitida nos novos Estados, estes teriam uma base econômica semelhante à do Sul e seus representantes tenderiam a fortalecer o bloco sulista no Congresso. Caso contrário, seria uma economia voltada para o trabalho livre, o que iria beneficiar o Norte, que se encontrava com problemas de falta de mão de obra.

A sociedade negra após Guerra Civil

Depois de quatro anos de luta, com mais de 500 mil baixas entre nortistas e sulistas, o Sul reconheceu sua derrota. Com o término da guerra, o governo americano defrontou-se com dois desafios: o de resolver o futuro da população negra, que em 1863 teve sua emancipação decretada, e o de reerguer a economia sulista.

Exército do Norte na Guerra Civil norte-americana
Exército do Norte na Guerra Civil norte-americana.

Nos anos de 1865 e 1866 foram elaborados os Códigos Negros, que garantiram ao negro o direito à propriedade, de recorrer à justiça para processar membros de sua raça, de casar e de ser educado pelo sistema público de educação. Entretanto, contrapondo-se a essas medidas pseudo-progressistas, tais códigos, ironicamente, também determinavam a proibição do negro a assumir cargos públicos, a votar, a fazer parte de júris, a portar armas e a disputar empregos que fossem dominados por brancos.

A respeito desse período pós-guerra, o juiz Halan, do Supremo Tribunal, comentou:

Por toda parte havia no povo um sentimento de profunda inquietude. O país havia se livrado da escravidão humana… mas existia a convicção geral de que a nação corria grave perigo de cair em outra modalidade de escravidão, a saber, a escravidão que iria resultar da concentração do capital nas mãos de uns poucos.

(Apud: Raymundo Campos, in: História da América, p.111.)

A verdade é que tais medidas abolicionistas não proporcionavam ao recém-liberto uma posição de cidadão, com direitos e obrigações. Os negros se viam alijados de uma relação digna de trabalho, vivendo numa situação de semiescravidão. Nem todos conseguiram seu pedaço de terra, ou por questão financeira, ou pela alta natalidade na época da emancipação.

Com a derrota do Sul, os nortistas fizeram desaparecer o sistema de latifúndio (as enormes fazendas de um só proprietário), desmembrando essa grande concentração de terra em pequenos lotes. Os negros esperavam que a promessa de redistribuição de terras 40 acres e uma mula, feita antes da guerra civil pelos políticos, fosse cumprida. Mas o que se deu foi apenas uma mudança de estruturação agrícola. Os negros que conseguiram terra eram absorvidos como empregados arrendatários, tendo o direito de cultivar um pequeno pedaço de terra em troca de deveres absurdos, como, por exemplo, 80% a 90% da colheita era destinada ao proprietário como pagamento e uma dívida para a vida toda.

A dura realidade dos recém-libertos

O negro “livre”, diante dessa realidade, viu-se obrigado a procurar trabalho nas pequenas fábricas que começavam a se aglomerar na periferia das grandes cidades. Essa atividade os tornavam trabalhadores subproletários e miseráveis, morando em casas insalubres, expostos à subeducação, ao alcoolismo, ao amontoamento familiar e à promiscuidade. Além de tudo isso, o ódio e o espírito de vingança invadiam o homem branco sulista. A segregação racial generalizada, levada às últimas consequências, impedia qualquer manifestação, por parte dos negros, nos setores cultural e religioso.

Facções secretas e extremistas, racistas e violentas, como a Ku Klux Klan (fundada em 1866), vieram de uma certa maneira intervir no processo de emancipação do afro-americano. O terror era espalhado pelas cidades da região com linchamentos de negros, com o intuito de barrar qualquer exercício dos direitos adquiridos.

Rio Mississipi
Rio Mississippi: o berço do blues. Imagem: Jon Platek/ Wikimidia Commons.

Outro exemplo de intervenção na vida da sociedade negra foi a criação, no Estado do Mississippi, de leis que iam contra a cidadania do negro, as quais rezavam o empréstimo de detentos às oficinas e aos canteiros de obras, que necessitavam de mão de obra. E o que ocorria, então? Homens e mulheres, em sua maioria negros e negras, eram capturados pelos motivos mais fúteis, proporcionando, dessa maneira, mão de obra gratuita.

Diante desse panorama e com o fracasso da reconstrução social e econômica do Sul, o negro recém-alforriado estava totalmente isolado e marginalizado na sociedade americana. E a tentativa de uma reconciliação entre Norte e Sul se concretizaria, pelo que se observava, à custa do trabalho do negro.

Para ajudar na reflexão a respeito da realidade americana antes e após a Guerra Civil, emprestamos algumas palavras da historiadora Nancy Naro:

O legado da Guerra Civil acabou sendo a transmissão para o negro de uma condição ambígua: a de ser nem escravo nem cidadão. O negro passaria ainda muitos anos como membro de um sistema de castas e viveria como um cidadão de segunda classe numa sociedade que, desde o século XVIII, tinha se manifestado a favor da proposta de que “todos os homens eram criados iguais”.

(In: A formação dos Estados Unidos, p 38.)


A citação que está na imagem destacada consta na obra Genealogia da música popular universalizada, de Luis Trindade, Porto, Edições Contraponto, 1984.


 

CAPÍTULO 2.  Dos gritos a uma nova expressão cultural

Como vimos no capítulo anterior, no período logo após a Guerra de Secessão, a sociedade negra estava mergulhada numa dura realidade, marcada pela miséria, pela segregação racial e pelo isolamento social.

Essa sociedade marginalizada encontrava-se ávida por produzir  econômica e culturalmente algo que a identificasse e refletisse todos os seus anseios e sentimentos.

Assim sendo, entendemos que, a partir dessa situação social deplorável e desse isolamento, os negros constataram a necessidade de “construir” uma cultura própria. A construção dessa identidade cultural significava para os negros americanos uma questão de sobrevivência.

Para relatar o que se passou na época, a respeito da realidade do negro, o historiador John Hope Franklin observa: 

[…] Por mais de um aspecto, a vida dos negros do Sul no início do século XX era mais difícil e mais precária que nos tempos da escravidão.

(Apud: Gérard Herzhaft, in Blues, p. 27.)

 

A expressão “construir uma cultura” encaixa-se bem nesse contexto, pois o negro norte-americano, desde a época da escravidão, vem digerindo valores do mundo europeu colonialista, e integrando-os aos de sua raiz africana.

E com o passar das décadas, despercebidamente, esses valores foram se cimentando pouco a pouco até consolidar uma cultura própria e com várias particularidades, que se apresentou a todo o território americano  com o  nome  de blues

E sobre a importância do blues como uma cultura própria e uma legítima identificação da sociedade negra, temos:

Foi depois da abolição do código da escravatura, já sem a atividade das rédeas reguladoras, que o blues se tornou a música do negro escravizado por excelência, como também o confidente de sua intimidade e o refletor claro de sua cultura. O Blues é o porta-voz de uma classe social historicamente sugada pelo apetite econômico […]. O Blues é uma música virgem de homens apessoados na vertigem de uma ação redentora.

(Apud: Luís Trindade, in Genealogia da música popular universalizada, p. 42.)

 

Os primeiros passos do blues

Foi com a vinda da primeira leva de escravos, organizada pelos holandeses em 1618, que os negros começaram seu árduo e importante trabalho na colonização da América do Norte.

Essa remessa inicial, que desembarcou na Virgínia, contou apenas com 20 escravos, porém esse número, em 1790, se multiplicou para 200 mil só nessa região. 

Para esses e milhões de outros negros, o sofrimento começava em alto-mar. Já em terra, o padecimento se dava de outra maneira. Apesar dos campos verdes à sua frente e do sol queimando suas cabeças, seu mundo ainda permanecia sob grades. Eram tratados como mercadoria, uma realidade na qual suas cabeças valiam menos que a de um animal. Vejam agora uma parte do texto do Código Civil da Louisiana:

Escravo é alguém sob a autoridade de um senhor ao qual pertence. O dono pode vendê-lo, dispor da sua pessoa, da sua indústria e do seu trabalho. Ele  não pode fazer seja o que for, nem adquirir qualquer coisa que não pertença ao seu dono.

(Apud: Luís Trindade, op. cit., p. 28.)

 

E o negro escravo tinha que expressar de alguma forma sua dor. Pois foi durante a época da escravidão, na América do Norte, que um grito musical e sofrido ecoou alto e forte nos campos de algodão do Sul. Como os escravos eram severamente reprimidos diante de qualquer manifestação cultural e religiosa, o solitário trabalhador negro, baseado ainda na sua cultura musical africana, expressava sua condição social e moral através da “musicalização” de um grito, que na verdade era meio clamor e meio canto.

Trabalhadores na colheita de algodão
Trabalhadores na colheita de algodão. Foto: Library of Congress.

Tal musicalização tinha duas características: a primeira consistia, efetivamente, num instrumento de comunicação  era a maneira pela qual o escravo mantinha contato com outro, às vezes, a vários metros de distância, pois eram obrigados a trabalhar longe uns dos outros, visto que os senhores  receavam que qualquer aproximação entre eles facilitasse a organização de revoltas; e a segunda, o grito que era executado de forma estritamente solitária, enquanto o negro realizava seu trabalho no campo. Os escravos iniciavam esse som com um grito forte, indo, em seguida, até a nota mais grave que conseguisse.

A respeito da “musicalização” desses gritos, Lillian Erlich, baseada em pesquisas de músicas da época, declara:

Os gritos, quando ouvidos pela primeira vez, podem parecer rudes e monótonos. Mas quando os ouvimos repetidamente, nos maravilhamos com as sutis mudanças de tom e com as mais intrincadas complicações de seus ritmos. Ouvimos cantores incultos brincando com a cadência  reduzindo-a e mantendo-a de uma forma engenhosa que pressagia a futura cadência do jazz. Sobretudo, somos tocados pela força emocional dessa música. A tristeza, os anseios e a rude alegria dos gritos brotam de sentimentos profundos, comuns a toda a humanidade.

( In: Jazz: das raízes ao rock, p. 55.)

 

Alguns historiadores nomeiam essa “musicalização” dos gritos de worksongs ou cantigas de trabalho. Dizem que tais cantigas datam desde o início da escravidão em solo americano e têm raízes nos costumes de trabalho comunitário na África ocidental. Entretanto, entendemos como cantigas de trabalho aqueles “gritos musicalizados” que, logo após o fim da escravidão, acompanharam os negros até as concentrações recém-criadas de trabalho assalariado (principalmente canteiros de obras e docas) e eram executados em grupos.

As worksongs ou cantigas de trabalho são, na verdade, o resultado do processo evolutivo do grito primitivo dos negros americanos, que vêm, agora, resultantes da simbiose dos elementos europeus e africanos, harmonicamente combinado e tendo as palavras uma nova importância na relação verbo-música.

Elas serviam para ritmar o trabalho pesado e se baseavam no sistema melódico de pergunta/resposta, dentro de uma sustentação de guia (cantor solista) e coro.

Essas canções tranquilizavam o dia a dia de trabalho do negro assalariado. Não apresentavam, no entanto, um contexto de interação social, de relacionamentos interpessoais. Poeticamente, as palavras tinham um mero papel explicativo. 

Reparem que estas canções de trabalho a seguir, do final do século XIX, já apresentam  estruturas que se verificariam mais tarde no blues, tais como o esquema interpelativo e o constante uso de interjeições: 

 

 Way down Southe where I was born, roll the cotton down./ I worked in the cotton and the corn/ Oh! roll the cotton down./

When I was young and in my prime, roll the cotton down./ Oh! roll the cotton down […]’m gwine to Alabamy  Oh!/ For to see my mammy  Oh!/ She went from old Virginny  Oh!/ And I’m her pickninny Ah!   

 

 

 O blues: uma identidade cultural

No início da década de 1910, essas canções de trabalho se mesclaram com baladas (baseadas em canções populares de origem anglo-saxônica, que eram adaptadas à realidade dos negros e falavam de homens negros para homens negros) e hinos religiosos dos brancos (tomando, assim, dos brancos a estrutura musical européia), transformando-se, mais ou menos, naquilo que seria o blues. 

Podemos dizer que o blues é uma manifestação  artística e cultural  genuína do negro norte-americano, que se manifesta através de artistas populares de uma sociedade negra subproletária, partícipe de uma realidade de graves problemas sociais. É resultante de duas etapas evolutivas: a primeira, de uma negritude escrava o grito, que se dá individualmente, numa realidade escravocrata, havendo pouca assimilação de nuances da música europeia; e a segunda, de uma negritude livre  as canções de trabalho, que se dá coletivamente, já contendo nuances da música europeia. 

Além de ser uma identidade cultural negra, precisamos mencionar dois pontos de muita importância: primeiro, com o blues houve uma grande novidade e até uma certa revolução no campo harmônico da música popular; e  segundo, com ele também criou-se uma particular maneira de se fazer música popular. Utilizou-se uma poesia verdadeiramente popular, criada por artistas pertencentes à facção social marginalizada e que vivenciavam  de fato e in loco a realidade de que falavam nas músicas. Em poucas palavras: o blues tornou-se, então, uma espécie de crônica musicada que relatava fatos, romances, solidão e aspirações até então desconhecidos do povo americano. A partir dessa singularidade, o consumidor negro e, logo em seguida, o consumidor branco viam o blues como uma nova, sensível e importante manifestação musical, perfeitamente consumível com o surgimento das primeiras gravações fonográficas.

Entendemos que o blues, partindo do pressuposto de que a arte popular é aquela que vem da classe dominada e oprimida pelo alto desnível econômico, seja a única manifestação artística popular que não tenha se restringido a um papel meramente folclórico. Muito pelo contrário! O blues teve suas transformações conforme a própria peregrinação de seus agentes criadores pelo país. Eram assimiladas características de cada região por onde passavam, além de utilizar os benefícios gerados pela evolução tecnológica, tais como estúdios de gravação e a eletrificação de instrumentos e de equipamentos sonoros.

O blues é, na verdade, uma  importante ruptura na forma de se compor música popular e também a base para  quase toda a música popular americana contemporânea (jazz, rock’n’roll, soul, funk e pop), aguçando, inclusive, o interesse de compositores eruditos (Debussy, em Goll iwog’s Cakewalk; Ravel, em L’enfant et les sortilèges; e Gershwin, em diversas obras.). 

As características do blues

A respeito do blues há várias especulações e pouquíssimos fatos que comprovam com exatidão o seu surgimento. É possível que tenha havido canções parecidas com o blues à época da escravidão. Entretanto, é de comum acordo que apareceu, como tal, no Sul dos Estados Unidos, depois de terminada a Guerra Civil. O aparecimento do blues é a junção de dois fatores: um social, quando a sociedade negra se vê livre, subproletária e miserável, e outro cultural, quando se dá um maior conhecimento  por parte de negros e brancos de suas respectivas manifestações musicais.

Há notícias de que os primeiros cantores de blues profissionais eram músicos de rua que andavam pelo Sul, com violões ou banjos nas costas. Eram vistos cantando nas feiras, nos campos de trabalho ou nos bares, em troca de algum dinheiro e bebida.

O blues apresenta um sistema poético e musical bem-definido. Poeticamente, apresenta tanto o verso quanto o ritmo bastante flexíveis. A parte cantada  segue um esquema a-a-b, sendo que o primeiro verso exerce o papel de emissor de um fato, de um sentimento; o segundo é uma repetição e, ao mesmo tempo, uma afirmação do que foi dito anteriormente; e o terceiro é o desfecho e a conclusão:

a) Yeah! when the sun rose this morning/ I didn’t have my baby by my side.

a)   Yeah! when the sun rose this morning/ I didn’thave my baby by my side.

b) Well, I didn’t know she was/ Was you outwith another guy.

( Blow wind blow, letra e música de Muddy Waters .) 

 

Musicalmente, o blues é a somatória da estrutura das canções afro-americanas (melodias da época da escravidão) com a da música europeia (música de concerto e popular). Do contraste entre essas duas estruturas, surgiu a sua maior característica  e talvez a explicação de seu fascínio: as blue notes.

O blues está baseado em melodias simples que transitam em harmonias também simples, com os três acordes básicos de uma tonalidade: tônica, subdominante e dominante. Por exemplo, num acorde e numa escala de dó maior, teremos C (tônica), F7 (subdominate.), G7(dominante) e volta para a tônica. Tudo isso colocado em doze compassos, divididos em três séries de quatro compassos.

Na sua execução, verifica-se uma constante irregularidade da fusão da poesia com esses doze compassos. Geralmente, as palavras tomam mais ou menos a metade da extensão musical, fazendo com que o executante entremeie “respostas” com seu instrumento, que funciona como um prolongamento ou, até mesmo, como um imitador da voz humana.

Este post tem 4 comentários

  1. Carlos Marino

    Muito bom meu amigo…Blues é coração !!!

    1. Paulo Sá

      Obrigado. Carlos! o próximo capítulo será sobre as bluenotes.

  2. Shellah Avellar

    ÍNDIGO BLUES..ÍNDIGO BLUES..ÍNDIGO BLUSÃO…
    Parabéns pelo texto..
    O BLUES agradece…

    1. Paulo Sá

      Obrigado, Shellah! O próximo capítulo será sobre as blues notes”

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