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Foto: Wikipedia Commons

Em busca do tempo perdido

Autoria: Marcus Caldevilla

Marcel Proust, ao escrever a obra Em busca do tempo perdido, publicada entre 1913 e 1927, descreveu em seu romance todo o processo de descortinamento da memória e como a vida se torna uma jornada em busca de si mesmo. São 3.500 páginas distribuídas em sete volumes que contam a ambição do autor de alcançar a substância do tempo para poder se subtrair de sua lei, a fim de tentar apreender, pela escrita, a essência de uma realidade escondida no inconsciente “recriada pelo nosso pensamento”.

https://www.pensarcontemporaneo.com/joseph-campbell-e-o-mito-da-jornada-do-heroi/Falando sobre a guerra, os pesadelos de sua juventude, a morte do avô, entre outras memórias, ele faz uma volta a seu passado, lembrando-se de imagens, fatos, sons, aromas, paisagens e sensações tácteis. Esse retorno ao passado é o fio condutor da jornada do herói por sua vida em busca de tudo aquilo que se perdeu e na compreensão de tudo o que ficou, abrindo o seu inconsciente para que essas lembranças perdidas se manifestem.

E qual o sentido disso?

Ao ouvirmos dizer que a libertação da alma se dará na medida em que o ser humano se liberte das amarras da roda do destino, outra coisa não é do que essa libertação da lei do tempo: nascemos, crescemos de acordo com aquilo que nos tornamos por meio das influências do ambiente infantil, nos tornamos adultos despreparados para o mundo e envelhecemos buscando o tempo perdido.

Quando retornamos ao passado e verificamos o que fomos e comparamos ao que somos, sentimos que algo se perdeu pelo caminho. Algo está errado, não foi bem isso que planejamos ou sonhamos. Ou mesmo que tenhamos atingido um certo grau de sucesso em nossa vida, sentimos em algum momento que não nos ajustamos mais ao presente.

É a advogada que percebe que seu sonho de se tornar veterinária quando criança está cada vez mais presente em seus momentos de desilusão, causando dor e tristeza; é o diretor comercial que se aposentou e agora não sabe mais o que fazer de sua vida e lembra cada vez com mais força das brincadeiras de criança e de como era feliz e se pergunta o que fará agora; é a mãe cujos filhos casaram e não precisam mais tanto dela e que agora passa seus dias em busca de algo para fazer e se sente deprimida e angustiada.

Todas essas pessoas têm em comum o fato de que não se ajustam mais à vida que levam, estão em um ponto de ruptura, porém não sabem como direcionar suas energias para buscarem um novo paradigma para suas vidas.

A jornada do Mito Pessoal nada mais é do que essa busca por um novo sentido para a vida. Essa jornada se pauta pela desconstrução do mito pelo qual o indivíduo vive, que é a somatória de todas as influências boas e ruins que estão encravadas em seu inconsciente, comparando com suas novas expectativas de vida e buscando um compromisso que seja o que de melhor pode trazer de seu passado com o que de melhor pode querer para seu futuro.

Dessa forma, deixamos de ser indivíduos limitados por pensamentos e sentimentos que não são nossos e nos tornamos realmente livres para vivermos a vida que queremos, porém dentro das circunstâncias em que existimos.

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