Se por um lado Coleman Hawkins foi o que colocou o sax-tenor na linha de frente como um instrumento solista no jazz, Lester Young foi o responsável, a partir dos anos 1930, a consolidar o som do jazz moderno como “sax-tenorizado”. Sua influência foi tão marcante, que todos os jovens músicos procuraram soar como ele.
Lester Willis Young, também conhecido por “Pres” ─ apelido que lhe fora dado por Billie Holliday ─, nasceu em 27 de agosto de 1909, na cidade de Woodville, Mississipi. Vindo de família de músicos profissionais, começou na música aos dez anos. Aprendeu trompete, violino, bateria e, aos 13 anos, iniciou-se no sax-alto.
Aos dezoito anos fugiu de casa e ingressou na banda de Art Bronson, já tocando sax-tenor. No início dos anos da década de 1930, apresentou-se com Walter Page Blue Devils, Bennie Moten e King Oliver.
Por volta de 1936, um fato mudaria e marcaria sua vida para sempre: sua entrada na orquestra de Count Basie. A respeito de Basie, Pres disse: “Eu ouvia sempre Count Basie no rádio e era louco por sua música. Basie foi minha escola”.
E foi com Count Basie que Lester Young registraria seus dois primeiros clássicos, os quais já apresentavam vestígios do cool jazz, estilo que só se consolidaria na década de 1950. Esses registros são as gravações de Lady be good, em 1936, e de Clap hands, her comes Charlie, em 1939.
A atuação de Lester Young no cenário jazzístico da época causou grande impacto, pois era impensável, tanto para músicos, quanto para ouvintes, o aparecimento de um sax-tenorista que soasse diferente de Coleman Hawkins. Ao contrário de Hawkins, que tinha um som robusto, volumoso e agressivo, Pres tirava do seu sax um som mais relaxado e mais intimista, quase lírico. Esse seu lirismo sonoro, que se caracterizava pela leveza, nas passagens rápidas, e pela delicadeza, nas lentas, talvez deva-se ao fato de que sempre gostou de ouvir cantoras e cantores e de se envolver na melodia cantada.
Lester Young e Billie Holiday: casamento musical perfeito
O seu afinamento com o canto, proporcionou-lhe mais um reconhecimento artístico. Em 1939, ao se unir à Billie Holiday ─ cantora que foi o elo entre a tradição vocal do blues, representada por Bessie Smith, e a consolidação do jazz vocal, na voz de Ella Fitzgerald ─, realizaria gravações que moldariam a arte jazzística de cantar. Billie Holliday trouxe a dramacidade e a sensibilidade do blues às canções de 32 compassos e Lester Young, por sua vez, formatou o acompanhamento do jazz moderno, ao colocar linhas melódicas entrecortando com a melodia principal. Fazia com tamanha maestria que às vezes era difícil determinar qual seria a melodia principal. Escutem atentamente Time on my hands, Without your love e Me, myself and I.

Em 1940 Press deixa a banda de Basie para trabalhar em projetos próprios, retornando à formação em 1943. Em 1944, a convocação para o serviço militar obrigou-o a dar um tempo em sua carreira. Nos dois anos em que esteve no exército, viveu intensamente as agruras do racismo, situação que provavelmente acelerou o seu abuso do álcool e a imersão nas drogas, além de vivenciar uma terrível depressão. Críticos escrevem que Press depois dessa experiência nunca mais foi o mesmo, tanto pessoal quanto musicalmente.
Voltou à ativa em 1945, atuando em casas noturnas de Los Angeles. Foi nessa época que seu nome tomou vulto no meio musical, e ele gravou um clássico, These foolish things. Participou também dos eventos da Jazz Philharmonic, que se apresentava em concertos, fazia turnês e gravações de jazz produzidos por Norman Granz, das gravadoras Verve e Pablo.
Lester Young exerceu grande influência e fascínio tanto em jovens saxofonistas, que fariam também história no jazz, como Dexter Gordon, Illinois Jacquet, quanto em orquestras. Nos anos 1950, as grandes orquestras tinham “o som” de Lester Young, e um exemplo significativo disso foi a Miles Davis Capitol Orchestra.
Ouvidos atentos para:
Pres and Teddy (1956, Verve Records). Com Lester Young (ts); Teddy Wilson (p); Gene Ramey (b); Jo Jo Jones (dr). Lester Young – produzido por Ken Burns (2000, Verve Records). O disco mostra as primeiras gravações de “Pres”. “Pres” in Washington, D.C (1956, Pablo Records). Com Lester Young (ts); Bill Potts (p); Norman Williams (p);Jim Lucht (dr).